Os animais já eram conhecidos, mas anteriormente se acreditava que faziam parte da mesma espécie. A descoberta foi recentemente publicada em uma revista científica.
Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) fizeram a descoberta de cinco novas espécies de lagartos amazônicos e optaram por nomeá-las em homenagem a pessoas que são defensoras da floresta e dos indígenas. Entre os homenageados, encontra-se o indigenista pernambucano Bruno Pereira, que infelizmente foi assassinado em 2022 junto com o jornalista inglês Dom Phillips durante uma viagem no Vale do Javari, no Amazonas.
Os lagartos são do gênero Iphisa. Além da descoberta das espécies, os pesquisadores também redefiniram outras duas espécies do mesmo gênero (veja fotos mais abaixo).
O estudo foi publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society, na segunda (11).
Os animais, segundo os estudiosos, já eram conhecidos, mas acreditava-se que faziam parte da mesma espécie, a Iphisa elegans.
Eles são exclusivos da região amazônica e, no caso de algumas espécies, ocorrem em locais específicos da floresta. Os lagartos são de pequeno porte e, na idade adulta, têm, em média, quatro centímetros de comprimento, além da cauda.
Abaixo, as cinco novas espécies:
A primeira autora do artigo foi Anna Mello, doutoranda em Biologia Animal pela UFPE. A pesquisa foi desenvolvida sob a orientação do professor Pedro Nunes, do departamento de Zoologia da universidade, que também coordena o Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFPE.
De acordo com a doutoranda, a ideia de fazer as homenagens na nomeação das espécies ocorreu porque, na época da pesquisa, o Brasil vivia um momento delicado com o aumento de queimadas e desmatamento da Amazônia.
“A gente sempre procura dar nomes às espécies pensando na região onde estão. Mas no cenário socioambiental em que vivíamos no Brasil, com muitas queimadas na Amazônia e invasão de terras indígenas, pensamos que seria interessante botar o nome de pessoas que estão literalmente dando suas vidas e quem ainda está trabalhando em defesa da floresta”, afirmou Anna Mello.
A ideia de uma das espécies levar o nome de Bruno Pereira foi do professor Pedro Nunes. Ele disse que a homenagem foi uma oportunidade.
“Tínhamos o recente assassinato de Bruno e Dom, num momento bastante frágil da floresta e de ambientalistas. Aproveitamos o momento, Ana teve a ideia de homenagear lideranças indígenas e a Irmã Dorothy e, por último, também teve uma colega nossa, da Unifesp, que vem trabalhando com essa família da Iphisa há mais de 20 anos e contribui bastante para essa organização”, explicou o professor.
A descoberta das cinco espécies começou em 2012, quando Pedro Nunes descobriu sinais de que as Ihpisa, antes catalogadas como uma espécie única, a Iphisa elegans, tinham diferenças morfológicas. Especialmente com relação ao órgão genital masculino desses animais, chamado de hemipênis.
Posteriormente, Bruno Pereira foi contratado pela UFPE e começou a orientar alunos da pós-graduação. Foi nesse contexto que Anna Mello ingressou e realizou a pesquisa, levando à identificação definitiva das cinco novas espécies. Além disso, a pesquisa também elevou o status da Iphisa soinii de uma subespécie para uma espécie independente, anteriormente considerada uma subespécie da Iphisa elegans.
“Além das características morfológicas, também usamos dados moleculares e tudo batia. Tínhamos evidências suficientes para descrever novas espécies”, explicou Anna Mello.
Mais de 700 espécimes de Iphisa foram analisados durante a pesquisa. Muitos deles foram “emprestados” à UFPE por outras instituições do Brasil e do mundo, mas os pesquisadores também frequentaram centros de pesquisa nacionais e do exterior.
“Isso muda um pouco da compreensão da diversidade desse gênero. A gente tinha o entendimento de que esse lagarto era de uma espécie só, em toda a Amazônia. Agora, não. Sabemos que são sete espécies e com distribuições bem mais restritas”, disse Pedro Nunes.
Anna Mello afirmou também que a descoberta de novas espécies implica no entendimento de que cada uma delas pode não ser tão abundante como se pensava anteriormente.