Sebastião Coelho da Silva, Hery Kattwinkel e Larissa Araújo optaram por promover a si mesmos em suas postagens, ganhando assim um aumento no número de seguidores em suas redes sociais.
Apesar de não terem alcançado seu objetivo principal, que era a absolvição de seus clientes, os advogados dos três primeiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), considerados como executores dos ataques de 8 de janeiro, tentaram transformar a situação desfavorável em algo positivo nas redes sociais. Após sessões nas quais as argumentações da defesa foram alvo de críticas e até ironias por parte dos ministros, os advogados Sebastião Coelho da Silva, Hery Kattwinkel e Larissa Araújo optaram por se autopromover, aumentando seu número de seguidores e justificando as falhas como resultado do “calor do momento”.
Kattwinkel, responsável pela defesa de Thiago Mattar, que foi condenado a 14 anos de prisão no dia anterior, aproveitou seu tempo no plenário para acusar o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, de “inverter o papel de acusador”. Em uma aparente tentativa de evocar uma lembrança da famosa discussão entre Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes ocorrida anos atrás, o advogado também afirmou que Moraes agiu com um “misto de raiva, rancor e pitadas de ódio ao falar dos patriotas”. Esse trecho específico de sua argumentação acabou sendo compartilhado nas redes sociais de Kattwinkel.
Em resposta, o ministro Moraes afirmou que o discurso do advogado parecia mais voltado para postagens em redes sociais e ironizou Kattwinkel por atribuir erroneamente uma passagem de “O Príncipe”, livro de Nicolau Maquiavel, à obra “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry. Em outra gafe notável, o advogado se referiu ao governador romano Pôncio Pilatos como “Afonso”. Além disso, o partido Solidariedade, ao qual o advogado era filiado, anunciou ontem a sua expulsão, citando o seu papel em “um grotesco espetáculo de ataques aos ministros”, conforme declarado na nota do partido.
Ontem, Kattwinkel pediu “escusas por não conseguir responder todo mundo” que lhe mandava mensagens e disse que sua “estratégia de defesa” seria mostrar a suposta “falta de imparcialidade” de Moraes — objetivo que, em sua avaliação, teria sido alcançado.
“O fato de errar o nome do livro que tanto atacam é uma questão tranquila e natural para qualquer pessoa, uma vez que sei do potencial jurídico do nosso escritório e se trata de um erro meramente formal frente ao calor do momento”, afirmou Kattwinkel em nota.
Assim como Hery Kattwinkel, Sebastião Coelho da Silva também compartilhou sua participação no julgamento por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais. Ele é advogado de Aécio Pereira, que foi condenado a 17 anos de prisão. No vídeo, Coelho agradeceu o apoio que recebeu, explicou que está “fazendo uma reflexão” sobre o julgamento e prometeu lançar um novo vídeo em breve. Seu perfil nas redes sociais recebeu comentários elogiosos de parlamentares bolsonaristas, como o deputado estadual Christiano Caporezzo (PL-MG), que declarou: “Acaba de ganhar mais um seguidor!”.
Atento à repercussão nas redes sociais, o defensor também esclareceu que possui apenas um perfil no Instagram, afirmando: “Tomei conhecimento de alguns perfis de apoio, mas não são de minha responsabilidade”, em referência a perfis que surgiram em seu nome, mas que ele não controla.
O desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Sebastião Coelho, começou a ganhar apoio do bolsonarismo após se afastar do cargo em 2022. Ele alegou que “evidentemente não iria cumprir as determinações” do ministro Alexandre de Moraes. Na época, Coelho ocupava o cargo de corregedor do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do DF, enquanto Moraes presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa atitude marcou seu afastamento do cargo e contribuiu para sua crescente associação com o bolsonarismo.
Em uma audiência no Senado em novembro, Sebastião Coelho foi aplaudido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ao defender a prisão do ministro Alexandre de Moraes e afirmar que o então presidente deveria “invocar o artigo 142 da Constituição para dar legitimidade às Forças Armadas para agirem”. É importante destacar que essa interpretação do artigo 142 da Constituição, como uma justificativa para que as Forças Armadas atuem sem respaldo legal adequado, é considerada inconstitucional por muitos juristas e especialistas em direito constitucional. Essa declaração de Coelho demonstra seu alinhamento com o bolsonarismo e suas posições controversas em relação à ordem constitucional.
O advogado virou alvo de reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que apura se incitou atos golpistas como juiz, e usou a tribuna no STF para fazer defesa de si próprio.
— Disponibilizarei minha declaração de Imposto de Renda e extratos bancários. Não tenho nada a esconder.
A advogada Larissa Araújo, que adotou uma postura mais discreta nas redes sociais, foi encontrada garimpando comentários elogiosos a si mesma após a condenação de seu cliente, Matheus Lázaro, a 17 anos de prisão. Um internauta comentou: “Este é o sinônimo da mais total frustração, saber que lutou por um diploma que não é honrado”, e esse comentário recebeu uma curtida de Araújo. Outro comentário dizia: “Não é medo. É a tristeza de saber que a sustentação oral não servirá de nada”, e também foi curtido pela advogada. Essas interações refletem as emoções e as reações nas redes sociais após um desfecho desfavorável no julgamento.